quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Pano de Boca


"Eu me escondia atrás de um personagem que eu chamava atriz. Atriz: meu nome, minha figura... tudo enfim. E eu comecei a despir minhas máscaras. [...]
Eu deixei que tudo que era falso e que me sustentava de pé, desmoronasse. As minhas paredes como se o público não estivesse ali, os assistindo, essa parede, eu acho que ela existe também na vida, como se as pessoas se relacionassem respeitando a convenção tácita de que não existe aquele escuro, que não existe i desconhecido espiando com muitos olhos brilhando na escuridão, ingenuamente ignorado, falsamente oculto, por trás da... quarta parede. Talvez ela exista como um artifício necessário para que possamos fingir que não temos medo, para que as coisas possam caminhar, eu não sei... eu comecei a viver uma nova vida. E não sabia mais o que chamar de realidade; se àquela penumbra em que eu agora vivia, ou se à antiga claridade mentirosa. Enfim eu tive a coragem de vir e me despir, máscara depois de máscara. Processo inverso do que eu pensava. Em vez de construir um personagem, decomponho o personagem, me dispo. Deixo a nu meu personagem, todos os personagens que sou, para encontrar em mim... o ator."

de PANO DE BOCA, de Fauzi Arap.